"Meu amor. Eu continuo esperando ouvir sua voz do outro lado. Meus dedos já estão gastos de tanto repetir o seu número naquele velho telefone de roleta. Eu vejo os dias passando através da janela, mas mal consigo me mexer. Tudo foi tão rápido que nem deu tempo de agir.
Eu me pergunto se eu não vou mais ouvir sua doce voz outra vez. Será que tudo foi por água abaixo?! Será que tudo acabou assim, de uma hora pra outra?! Será que eu não merecia ao menos uma chance de te explicar?! Será que logo você, tão madura, tão certa de si, ia agir feito uma criança imatura e se isolar no seu próprio mundo?!
Eu não consegui te dizer, mas no dia que você partiu, eu resolvi andar pra tentar entender. Lembra aquela praia que a gente costumava ir nas madrugadas de sábado?! Aquela maré alta, aquela areia macia, aquela lua cheia iluminando o céu. Tudo aquilo me fez lembrar o seu sorriso, a sua força, o nosso amor. Não é possível que tudo acabe assim, tão de repente...
O telefone continua chamando e você não atende. Mas eu não desisto, e você sabe disso. Nada vai me fazer esquecer aquela promessa que você tinha me feito, lembra?! Hoje era o dia que a gente tinha tanto esperado, e eu ainda espero que você volte a ser o que você era antes de tudo isso. Eu ainda espero que aquela promessa seja realizada hoje.
Bom, como você não atende, ao menos leia essa carta, que eu estou deixando debaixo da sua porta, vou pro lugar que a gente combinou antes. Espero que as letras que ficaram borradas pelas minhas lágrimas não te impeçam de ler o que eu escrevi. Você sabe onde me encontrar.
Está chovendo cada vez mais lá fora. E está chovendo cada vez menos aqui. As lágrimas e os pingos se transformam em uma só gota. Está chovendo pingos de amor..."
_________________________________________
Sem tempo pra internet, por isso a ausência. Quando der, volto com força total. Por enquanto, isso é tudo. Enjoy!
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
domingo, 24 de agosto de 2008
Valsas e comprimidos...
O tempo tinha passado depressa demais pra linda menina que bailava ao som das mais belas valsas. A pureza do olhar, a delicadeza dos gestos, a doçura da voz, tinham ido embora com o passar dos anos. Duros anos, que transformaram aquela delicada amante da arte em uma forte e determinada mulher de negócios.
Aquelas belas valsas que tocavam na vitrola de sua avó quando ela era mais nova, foram trocadas por desafinadas buzinas, milhares de vozes que tentavam uma sobressair sobre a outra, e diversos comprimidos para enxaqueca. Ela sentia falta daquelas melodias perfeitas, mas seu tempo livre era tão raro, que nem as melhores lembranças de sua infância arranjavam um lugar nele.
Aliás, ela acabava de se repreender por se pegar cantarolando, mais uma vez, aquela valsa, do segundo espetáculo que ela tinha feito quando criança. Essas distrações estavam se tornando cada vez mais comuns, mesmo ela fazendo de tudo para esquecer dessa nostalgia "estúpida" (pelo menos era o que ela dizia a si mesma para se convencer) e voltar aos negócios. Fazia muito tempo que ela trabalhava para conseguir esse importante projeto e não ia deixar nada atrapalhar. Nada.
Rascunhos e projetos na sua frente. Notas e melodias na mente. Água e remédios na mesa. Lembranças e valsas na cabeça. A caneta sendo usada cada vez mais forte. A música tocando cada vez mais forte...
Ela queria fugir. Talvez todos queiram fugir, mas poucos tenham coragem pra isso. E ela, os olhos viajando entre os comprimidos e as chaves, se indagava se teria a coragem necessária para abandonar tudo. Ela sabia que era um caminho sem volta. Se fosse embora naquele momento, sabia que uma nova vida começaria, e tudo que fora conquistado até o momento ficaria pra trás.
Os olhos continuavam viajando. Comprimidos, chaves, indecisão, atitude, certo, duvidoso. Os olhos pararam por um momento. E o brilho do metal das chaves era refletido no brilho do seu olhar. A decisão estava tomada. Já passava da hora de escolher.
Num brusco movimento, sua mão direita parou sobre o molho de chaves. A mão esquerda, livre, serviu para abrir a gaveta ao lado. Guardou a chave lá dentro, pegou o copo d'água, um comprimido para enxaqueca e engoliu. Um talvez fosse pouco, então engoliu outro, só por garantia.
Sorriu, por se achar tão idiota ao ponto de cogitar a idéia de largar tudo. Ela sabia que nunca faria isso. Seu passado de bailarina não passava disso. De passado. As valsas aos poucos iam cessando. O som dos rabiscos nos papéis foi tomando o ambiente. A bailarina não bailava mais. Pelo menos não as velhas valsas...
Aquelas belas valsas que tocavam na vitrola de sua avó quando ela era mais nova, foram trocadas por desafinadas buzinas, milhares de vozes que tentavam uma sobressair sobre a outra, e diversos comprimidos para enxaqueca. Ela sentia falta daquelas melodias perfeitas, mas seu tempo livre era tão raro, que nem as melhores lembranças de sua infância arranjavam um lugar nele.
Aliás, ela acabava de se repreender por se pegar cantarolando, mais uma vez, aquela valsa, do segundo espetáculo que ela tinha feito quando criança. Essas distrações estavam se tornando cada vez mais comuns, mesmo ela fazendo de tudo para esquecer dessa nostalgia "estúpida" (pelo menos era o que ela dizia a si mesma para se convencer) e voltar aos negócios. Fazia muito tempo que ela trabalhava para conseguir esse importante projeto e não ia deixar nada atrapalhar. Nada.
Rascunhos e projetos na sua frente. Notas e melodias na mente. Água e remédios na mesa. Lembranças e valsas na cabeça. A caneta sendo usada cada vez mais forte. A música tocando cada vez mais forte...
Ela queria fugir. Talvez todos queiram fugir, mas poucos tenham coragem pra isso. E ela, os olhos viajando entre os comprimidos e as chaves, se indagava se teria a coragem necessária para abandonar tudo. Ela sabia que era um caminho sem volta. Se fosse embora naquele momento, sabia que uma nova vida começaria, e tudo que fora conquistado até o momento ficaria pra trás.
Os olhos continuavam viajando. Comprimidos, chaves, indecisão, atitude, certo, duvidoso. Os olhos pararam por um momento. E o brilho do metal das chaves era refletido no brilho do seu olhar. A decisão estava tomada. Já passava da hora de escolher.
Num brusco movimento, sua mão direita parou sobre o molho de chaves. A mão esquerda, livre, serviu para abrir a gaveta ao lado. Guardou a chave lá dentro, pegou o copo d'água, um comprimido para enxaqueca e engoliu. Um talvez fosse pouco, então engoliu outro, só por garantia.
Sorriu, por se achar tão idiota ao ponto de cogitar a idéia de largar tudo. Ela sabia que nunca faria isso. Seu passado de bailarina não passava disso. De passado. As valsas aos poucos iam cessando. O som dos rabiscos nos papéis foi tomando o ambiente. A bailarina não bailava mais. Pelo menos não as velhas valsas...
domingo, 13 de julho de 2008
Girassóis...
Ela tinha passado a tarde toda deitada, sentindo o forte aroma de chão batido misturado ao leve perfume daqueles girassóis, e ouvindo o silêncio (daqueles que conseguem ser ouvidos, mesmo que só por algumas pessoas) que a muito tempo ela almejava ouvir. Parecia que aquele lugar fora feito exatamente pra ela, e ela, como uma pessoa que acaba de receber o melhor dos presentes, aproveitou cada minuto possível naquele lugar.
Dizem que os Girassóis surgiram após uma linda moça se apaixonar pelo Deus Apolo e acompanhar seu trajeto pelos céus, dia após dia, até se tornar a flor. Mas ela nunca acreditava em histórias, fossem reais, fantasiosas ou as ambas juntas. Talvez pelas desilusões com as suas próprias histórias (fossem elas de amor ou de aventura), só os fatos reais importavam. Histórias não passavam de sonhos agora. Daqueles sonhos que não são sonhados, diga-se de passagem...
Mas passar a tarde toda deitada em um campo de girassóis, apreciando a beleza do Sol (que era observado e até mesmo julgado por aqueles belos e questionadores olhos negros) e de suas admiradoras amareladas, é algo que faz até mesmo a mais cética das pessoas, acreditar em alguma coisa. Nem que seja numa simples história ou num grande sonho (ou talvez em ambos). E ali, no meio daquela imensidão de cores vibrantes, ela acreditou. Não sabia ao certo em que (ou em quem), mas algumas histórias passavam a fazer sentido (mesmo que não fizessem sentido algum).
O vento aumentava a medida que Apolo cavalgava pra longe, pro outro lado. Ela agora acreditava em Apolo e acreditava em Girassóis. E mesmo sem saber, acreditava naquelas velhas histórias de amor. E talvez tenha sido isso que tenha colocado aquele sorriso satisfeito no rosto dela. E definitivamente foi isso que transformou aqueles questionadores olhos negros em olhos repletos de certeza e ardor.
Ela se levantou. Já era tarde, e Apolo já tinha levado sua carruagem para outro lugar. A Lua surgia imponente no céu limpo, sem estrelas. Ela sabia que tinha muito a aprender e a acreditar ainda, e que essa mesma Lua ia ajudar nessa tarefa. Mas não naquele dia. Ela já tinha acreditado demais...
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Dedicado a Vabz Queiroz. Porque as vezes Gérberas se transformam em Girassóis ;)
Blog com nome novo!
Dizem que os Girassóis surgiram após uma linda moça se apaixonar pelo Deus Apolo e acompanhar seu trajeto pelos céus, dia após dia, até se tornar a flor. Mas ela nunca acreditava em histórias, fossem reais, fantasiosas ou as ambas juntas. Talvez pelas desilusões com as suas próprias histórias (fossem elas de amor ou de aventura), só os fatos reais importavam. Histórias não passavam de sonhos agora. Daqueles sonhos que não são sonhados, diga-se de passagem...
Mas passar a tarde toda deitada em um campo de girassóis, apreciando a beleza do Sol (que era observado e até mesmo julgado por aqueles belos e questionadores olhos negros) e de suas admiradoras amareladas, é algo que faz até mesmo a mais cética das pessoas, acreditar em alguma coisa. Nem que seja numa simples história ou num grande sonho (ou talvez em ambos). E ali, no meio daquela imensidão de cores vibrantes, ela acreditou. Não sabia ao certo em que (ou em quem), mas algumas histórias passavam a fazer sentido (mesmo que não fizessem sentido algum).
O vento aumentava a medida que Apolo cavalgava pra longe, pro outro lado. Ela agora acreditava em Apolo e acreditava em Girassóis. E mesmo sem saber, acreditava naquelas velhas histórias de amor. E talvez tenha sido isso que tenha colocado aquele sorriso satisfeito no rosto dela. E definitivamente foi isso que transformou aqueles questionadores olhos negros em olhos repletos de certeza e ardor.
Ela se levantou. Já era tarde, e Apolo já tinha levado sua carruagem para outro lugar. A Lua surgia imponente no céu limpo, sem estrelas. Ela sabia que tinha muito a aprender e a acreditar ainda, e que essa mesma Lua ia ajudar nessa tarefa. Mas não naquele dia. Ela já tinha acreditado demais...
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Dedicado a Vabz Queiroz. Porque as vezes Gérberas se transformam em Girassóis ;)
Blog com nome novo!
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Páginas Arrancadas...
"Terceiro dia.
A cada minuto que passa eu me sinto mais absorvido pela atmosfera doentia desse lugar. Hoje não foi muito diferente dos dois primeiros dias. Pelo menos agora eu já tenho uma noção do que fazer e, mais importante ainda, o que não fazer.
Quando eu achei que isso aqui seria menos duro que a prisão, eu tava muito enganado. Parece que tudo isso é um mundo a parte (e talvez seja), que vai sugando sua sanidade aos poucos, até você chegar ao final da estrada, até você se tornar mais um deles.
Eu não entendo porque eu, um cara "normal", com emprego, família, amigos, e toda aquela merda que todo mundo tem, vim parar nessa droga de lugar. Eu nunca fui de saber muitas coisas, mas se tem uma coisa que eu sei é que eu não fiz nada que justificasse isso.
Mas quase nunca as coisas são como deveriam ser. Eu sabia que não devia ter mudado meu caminho aquela noite. Mas mesmo assim eu mudei. E aquela aparentemente pequena mudança, fez com que a minha vida inteira mudasse. Presenciar um assassinato brutal não é uma coisa que se possa considerar agradável. E muito menos quando o assassino é uma das pessoas mais influentes da porra da cidade.
De lá pra cá, foi tudo uma enchente de acontecimentos. Ele não podia ser preso, e alguém tinha que levar a culpa. Então sobrou pro idiota aqui que resolveu mudar o caminho pra casa naquela maldita noite. Em menos de uma semana eu já tava dentro da jaula, condenado pelas pessoas, facilmente manipuláveis, antes mesmo de ser condenado pela "justiça". Aliás, que justiça?! A justiça deles, ou a nossa?
Mas chega de remoer o passado. Eu sei que vai ser foda ficar por aqui, e se eu ficar pensando no passado eu vou ficar como eles bem rápido. Bem que o advogado que eles me arrumaram disse pra eu ocupar minha cabeça com alguma coisa antes que ficasse louco. E é por isso que eu tô aqui, escrevendo essa droga. É melhor que "conversar" com o cara que abriu a própria barriga porque as vozes mandaram, ou com a mulher que acha que é casada com Hitler. Bom, com ela eu não ia poder conversar, já que segundo os guardas tem quase 3 semanas que ela só fala em alemão.
Falando neles, e porque não com os guardas? Eu nunca fui muito com a cara de policiais, mas nessa situação eu até tentei conversar com um. Mas aprendi da pior maneira possível que é proibido qualquer contato com eles. O único contato que eu posso ter com os "cavaleiros azuis" como diz um dos meus companheiros de cela, é mediado pelo cassetete que eles usam pra controlar os presos. Então eu prefiro continuar escrevendo por aqui mesmo. É menos dolorido. Pelo menos fisicamente...
Bom, já é noite, e o sinal avisando que as luzes vão se apagar já tocou. Eu não dormi direito desde que cheguei aqui, e meu corpo demonstra isso. Acho que o cansaço vai acabar vencendo o meu senso de alerta, e o sono vai ser inevitável. Só espero que não aconteça nada comigo durante a noite.
O segundo sinal bateu. Daqui a dois minutos as estrelas serão a minha única companhia, então é melhor eu parar de escrever e guardar tinta na caneta pra amanhã. Já vi que vai ser difícil conseguir outra nesse lugar..."
Se vocês gostarem eu posto mais.
Desculpa a demora nos posts, é que a inspiração anda em baixa por aqui. Espero que gostem.
Abraços...
A cada minuto que passa eu me sinto mais absorvido pela atmosfera doentia desse lugar. Hoje não foi muito diferente dos dois primeiros dias. Pelo menos agora eu já tenho uma noção do que fazer e, mais importante ainda, o que não fazer.
Quando eu achei que isso aqui seria menos duro que a prisão, eu tava muito enganado. Parece que tudo isso é um mundo a parte (e talvez seja), que vai sugando sua sanidade aos poucos, até você chegar ao final da estrada, até você se tornar mais um deles.
Eu não entendo porque eu, um cara "normal", com emprego, família, amigos, e toda aquela merda que todo mundo tem, vim parar nessa droga de lugar. Eu nunca fui de saber muitas coisas, mas se tem uma coisa que eu sei é que eu não fiz nada que justificasse isso.
Mas quase nunca as coisas são como deveriam ser. Eu sabia que não devia ter mudado meu caminho aquela noite. Mas mesmo assim eu mudei. E aquela aparentemente pequena mudança, fez com que a minha vida inteira mudasse. Presenciar um assassinato brutal não é uma coisa que se possa considerar agradável. E muito menos quando o assassino é uma das pessoas mais influentes da porra da cidade.
De lá pra cá, foi tudo uma enchente de acontecimentos. Ele não podia ser preso, e alguém tinha que levar a culpa. Então sobrou pro idiota aqui que resolveu mudar o caminho pra casa naquela maldita noite. Em menos de uma semana eu já tava dentro da jaula, condenado pelas pessoas, facilmente manipuláveis, antes mesmo de ser condenado pela "justiça". Aliás, que justiça?! A justiça deles, ou a nossa?
Mas chega de remoer o passado. Eu sei que vai ser foda ficar por aqui, e se eu ficar pensando no passado eu vou ficar como eles bem rápido. Bem que o advogado que eles me arrumaram disse pra eu ocupar minha cabeça com alguma coisa antes que ficasse louco. E é por isso que eu tô aqui, escrevendo essa droga. É melhor que "conversar" com o cara que abriu a própria barriga porque as vozes mandaram, ou com a mulher que acha que é casada com Hitler. Bom, com ela eu não ia poder conversar, já que segundo os guardas tem quase 3 semanas que ela só fala em alemão.
Falando neles, e porque não com os guardas? Eu nunca fui muito com a cara de policiais, mas nessa situação eu até tentei conversar com um. Mas aprendi da pior maneira possível que é proibido qualquer contato com eles. O único contato que eu posso ter com os "cavaleiros azuis" como diz um dos meus companheiros de cela, é mediado pelo cassetete que eles usam pra controlar os presos. Então eu prefiro continuar escrevendo por aqui mesmo. É menos dolorido. Pelo menos fisicamente...
Bom, já é noite, e o sinal avisando que as luzes vão se apagar já tocou. Eu não dormi direito desde que cheguei aqui, e meu corpo demonstra isso. Acho que o cansaço vai acabar vencendo o meu senso de alerta, e o sono vai ser inevitável. Só espero que não aconteça nada comigo durante a noite.
O segundo sinal bateu. Daqui a dois minutos as estrelas serão a minha única companhia, então é melhor eu parar de escrever e guardar tinta na caneta pra amanhã. Já vi que vai ser difícil conseguir outra nesse lugar..."
Se vocês gostarem eu posto mais.
Desculpa a demora nos posts, é que a inspiração anda em baixa por aqui. Espero que gostem.
Abraços...
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Xeque-Mate
Cada peça estava estrategicamente posicionada. Os peões na linha de frente, prontos para defender seu reino a todo custo. As torres nos cantos, prontas para atacar qualquer um que tentasse invadir seu território. A cavalaria pronta para agir assim que fosse ordenada. Os bispos ao lado do Rei e da Rainha, usando de toda sua influência e de toda sua astúcia. E finalmente, o casal real. A Rainha, jovem, vigorosa, perspicaz, pronta para derrotar qualquer um que cruzasse seu caminho. E o Rei. Apesar da idade avançada e dos movimentos debilitados, já tinha passado por inúmeras batalhas como essa, e sabia exatamente como comandar suas tropas a vitória.
Mais do que um jogo. Uma batalha. Mais do que uma simples batalha. Uma batalha pela honra. Quem quer que caísse, cairia com todas as suas forças. Seria a última e derradeira disputa pela honra, entre aqueles 2 reinos, entre aquelas 2 vidas. Pretas e Brancas. Forças iguais, que só iriam se diferenciar com a vitória ou a derrota. Forças iguais e ao mesmo tempo muito diferentes.
O monarca branco dá seu sinal. A batalha tem seu início. Um peão, arrojado, corajoso, impetuoso, começa sua luta. O monarca preto dá seu sinal. Um cavaleiro, rápido, forte, resistente, corre pelo campo. Movimento após movimento. Cada passo pensado e calculado friamente. Cada passo em busca da queda do adversário. Que vença o melhor exército. Que vença o melhor estrategista.
A batalha continua a todo o vapor. Peões sucumbem. Torres são destruídas. Cavaleiros caem de suas montarias com destino ao abismo da morte. Bispos são assassinados em nome de Deus. Cada exército mostra suas forças e suas fraquezas a cada passo. A destruição aos poucos vai dando forma ao vencedor.
A Rainha branca sofre um golpe mortal do bispo preto. Um punhal cravado em seu peito faz a soberana daquele império se transformar numa mera mortal, frágil e vulnerável como todas as outras. Ela não tem mais forças para continuar. Deixa para seu esposo o pedido de vingança, o qual ele, com ódio no olhar, dá-lhe a confirmação que ela precisava para partir em paz.
Os exércitos quase não existem mais. O casal preto está acompanhado de seu bispo. O monarca branco está acompanhado de seu fiel cavaleiro, e de seu mais nobre peão. Os últimos e derradeiros movimentos definirão quem é o melhor. O rei branco, tomado pelo ódio, ordena o ataque de seu cavaleiro. Mas antes que este chegue a seu destino, a rainha preta sucumbe. E logo após ela, o rei preto.
Caído, sem forças, o monarca preto só teve tempo de ver o sorriso no rosto de seu bispo. A traição era eminente, mas ele preferira ignorá-la em prol da batalha. Pagara o preço por isso. Do lado branco, o cavaleiro e o peão comemoravam, enquanto o rei mostrava tristeza em seu olhar. Não era dessa maneira que ele queria vencer. Sua honra tinha sido jogada no lixo com aquela traição que tirara sua verdadeira vitória.
Ele não tinha mais motivos para continuar vivo. Sua esposa tinha caído. Sua honra estivera ao alcance das mãos e ela a deixara escapar. Com um último movimento de sua espada, cravou a lâmina em seu próprio peito, e foi ao encontro de sua amada e de seu nobre inimigo.
O peão olhava assustado e não entendia o motivo daquilo. O cavaleiro, um pouco mais esperto, sentia-se orgulhoso da nobreza de seu falecido rei. O Bispo ria com todas as suas forças. Seu plano estava completo. Não existia mais pretas e brancas. Tudo se misturava em um tom de cinza com o vermelho do sangue dos caídos. E ele, o astuto Bispo, se tornava agora o novo Rei, naquela fusão de cores, naquele novo reino. Pelo menos até a próxima batalha...
Mais do que um jogo. Uma batalha. Mais do que uma simples batalha. Uma batalha pela honra. Quem quer que caísse, cairia com todas as suas forças. Seria a última e derradeira disputa pela honra, entre aqueles 2 reinos, entre aquelas 2 vidas. Pretas e Brancas. Forças iguais, que só iriam se diferenciar com a vitória ou a derrota. Forças iguais e ao mesmo tempo muito diferentes.
O monarca branco dá seu sinal. A batalha tem seu início. Um peão, arrojado, corajoso, impetuoso, começa sua luta. O monarca preto dá seu sinal. Um cavaleiro, rápido, forte, resistente, corre pelo campo. Movimento após movimento. Cada passo pensado e calculado friamente. Cada passo em busca da queda do adversário. Que vença o melhor exército. Que vença o melhor estrategista.
A batalha continua a todo o vapor. Peões sucumbem. Torres são destruídas. Cavaleiros caem de suas montarias com destino ao abismo da morte. Bispos são assassinados em nome de Deus. Cada exército mostra suas forças e suas fraquezas a cada passo. A destruição aos poucos vai dando forma ao vencedor.
A Rainha branca sofre um golpe mortal do bispo preto. Um punhal cravado em seu peito faz a soberana daquele império se transformar numa mera mortal, frágil e vulnerável como todas as outras. Ela não tem mais forças para continuar. Deixa para seu esposo o pedido de vingança, o qual ele, com ódio no olhar, dá-lhe a confirmação que ela precisava para partir em paz.
Os exércitos quase não existem mais. O casal preto está acompanhado de seu bispo. O monarca branco está acompanhado de seu fiel cavaleiro, e de seu mais nobre peão. Os últimos e derradeiros movimentos definirão quem é o melhor. O rei branco, tomado pelo ódio, ordena o ataque de seu cavaleiro. Mas antes que este chegue a seu destino, a rainha preta sucumbe. E logo após ela, o rei preto.
Caído, sem forças, o monarca preto só teve tempo de ver o sorriso no rosto de seu bispo. A traição era eminente, mas ele preferira ignorá-la em prol da batalha. Pagara o preço por isso. Do lado branco, o cavaleiro e o peão comemoravam, enquanto o rei mostrava tristeza em seu olhar. Não era dessa maneira que ele queria vencer. Sua honra tinha sido jogada no lixo com aquela traição que tirara sua verdadeira vitória.
Ele não tinha mais motivos para continuar vivo. Sua esposa tinha caído. Sua honra estivera ao alcance das mãos e ela a deixara escapar. Com um último movimento de sua espada, cravou a lâmina em seu próprio peito, e foi ao encontro de sua amada e de seu nobre inimigo.
O peão olhava assustado e não entendia o motivo daquilo. O cavaleiro, um pouco mais esperto, sentia-se orgulhoso da nobreza de seu falecido rei. O Bispo ria com todas as suas forças. Seu plano estava completo. Não existia mais pretas e brancas. Tudo se misturava em um tom de cinza com o vermelho do sangue dos caídos. E ele, o astuto Bispo, se tornava agora o novo Rei, naquela fusão de cores, naquele novo reino. Pelo menos até a próxima batalha...
sexta-feira, 4 de abril de 2008
O conto do céu desconhecido...
Que Saramago me perdoe! O texto vai ser polêmico, não espero que muita gente entenda o verdadeiro sentido dele, mas eu gostei e queria ver a opinião de algumas pessoas, e peço que comentem só quem leu ele todo. Uma paródia religiosa ao conto da ilha desconhecida de José Saramago:
"Um homem foi bater a porta de Deus e disse-lhe; Dá-me respostas. A casa de Deus tinha muitas portas, mas aquela era a das orações. Como Deus passava quase todo tempo na porta dos oferendas (pra onde você achou que o dízimo ia?), ele muitas vezes esquecia da porta das orações, e só quando o som das trombetas dos Tronos ressoava alto pelo salão celestial e tirava o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, que Deus temos nós, que não atende), é que dava ordem ao Arcanjo mais próximo para saber o que era tão importante. Então, o Arcanjo chamava um Serafim, que chamava um anjo, e assim sucessivamente, até chegar em um Querubim, o qual não tendo ninguém a quem mandar, entreabria a porta das orações e perguntava pela fricha; Que é que tu queres? O suplicante dizia ao que vinha, ou seja, pedia o que tinha a pedir e depois instalava-se a um canto da porta, esperando a resposta. O pedido fazia o caminho inverso, e chegava ao Querubim a ordem de dizer sim ou não, conforme a Maré.
Contudo, no caso do homem que queria respostas, as coisas não se passaram bem assim. Quando o Querubim lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era costume de todos, saúde, riqueza, casamento, filhos, respondeu, Quero falar com Deus, Já sabes que Deus não pode vir, está na porta das oferendas, respondeu o Querubim, Pois então vá lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tampando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair só por cima dele. E isso era um problema, já que a pragmática das portas dizia que só podia ser atendido um suplicante de cada vez.
No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido Deus, em real "pessoa", à porta das orações, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei ao Querubim, e ele perguntou, Toda ou só um bocadinho. Deus duvidou por um instante, mas depois percebeu que pareceria mal, o Todo-Poderoso falar com um fiel através de uma fresta, Toda, ordenou Deus.
O inopinado aparecimento de Deus (nunca tal coisa havia sucedido desde que ele andava de auréola na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos oradores, mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomaram-se nas janelas das casas celestiais, do outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo atrás de respostas.
Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, Deus tratou logo de fazer 3 perguntas seguidas, Que é que tu queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me respostas, disse. O assombro deixou Deus a tal ponto desconcertado, que o Querubim tratou logo de pegar o banquinho o qual ele próprio usava quando precisava trabalhar.
Mal sentado, pois o banquinho era pequeno e incômodo, Deus perguntou, meio a contragosto, E tu quais respostas desejas obter, pode-se saber, Eu quero saber por que não me fizeste ignorante como muitos outros, respondeu o homem, Mas a ignorância é um defeito, e não uma qualidade, respondeu Deus, disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, Pelo contrário, a ignorância é a maior das virtudes, respondeu o homem, Disparate, eu criei os defeitos e as virtudes e sei quais são quais, respondeu Deus, Quem foi que te disse, Deus, que as vezes as coisas não podem se modificar ao longo do tempo, Porque elas sempre foram assim, Elas sempre foram até mudar, Eu sou o Deus desse mundo e sei o que muda e o que não muda, sem mim vocês não são nada, Pelo contrário Deus, sem nós tu não és nada, sem nossa crença, nossa fé, o senhor não teria razão para existir, mas nós continuaríamos.
Deus, um pouco mais sério, perguntou-lhe, Então me digas por que a ignorância se tornou uma virtude, Porque, Deus, graças a ela as pessoas podem ser felizes, respondeu o homem, Como assim felizes, Bom, as pessoas ignorantes, não se preocupam se vêem aqueles que deveriam nos ajudar nos prejudicam, não se preocupam com as injustiças, nem com os problemas do mundo, nem com a vida sofrida alheia, Deus, elas só se preocupam em serem felizes, sem ligar para o que passa sua volta, fingindo que não é com elas, ou mesmo não entendendo o que se passa ao seu redor, pelo contrário, elas precisam de pouco para serem felizes, não importa se tem gente passando fome, se tem gente morrendo pela violência, gente largada na rua, o que importa é dar a oferenda ao senhor, ir a missa todos os domingos, mesmo que quando sair da igreja faça tudo ao contrário, o que importa é ver seu time vencer, e ter a cerveja do final de semana para comemorar.
Então, afinal, o que é que desejas, perguntou-lhe Deus, Desejo que me faça um ser ignorante, Pois bem então, vou dar-te a ignorância, mas as conseqüências serão tuas. Os gritos e aplausos do público não deixaram Deus ouvir o agradecimento do homem e nem seu pedido de um fígado extra para as cervejas dos finais de semana. Deus já havia voltado a porta das oferendas, e a hierarquia na porta das orações voltava a ser a mesma. Pelo menos por enquanto..."
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Se quiserem me xingar de Herege, me xinguem com conteúdo! Hahahahaha!
E fica aqui uma pergunta: Será que valeria a pena ser ignorante e alienado em prol da própria felicidade? Cá pra mim, não sei!
Abraço!
"Um homem foi bater a porta de Deus e disse-lhe; Dá-me respostas. A casa de Deus tinha muitas portas, mas aquela era a das orações. Como Deus passava quase todo tempo na porta dos oferendas (pra onde você achou que o dízimo ia?), ele muitas vezes esquecia da porta das orações, e só quando o som das trombetas dos Tronos ressoava alto pelo salão celestial e tirava o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, que Deus temos nós, que não atende), é que dava ordem ao Arcanjo mais próximo para saber o que era tão importante. Então, o Arcanjo chamava um Serafim, que chamava um anjo, e assim sucessivamente, até chegar em um Querubim, o qual não tendo ninguém a quem mandar, entreabria a porta das orações e perguntava pela fricha; Que é que tu queres? O suplicante dizia ao que vinha, ou seja, pedia o que tinha a pedir e depois instalava-se a um canto da porta, esperando a resposta. O pedido fazia o caminho inverso, e chegava ao Querubim a ordem de dizer sim ou não, conforme a Maré.
Contudo, no caso do homem que queria respostas, as coisas não se passaram bem assim. Quando o Querubim lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era costume de todos, saúde, riqueza, casamento, filhos, respondeu, Quero falar com Deus, Já sabes que Deus não pode vir, está na porta das oferendas, respondeu o Querubim, Pois então vá lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tampando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair só por cima dele. E isso era um problema, já que a pragmática das portas dizia que só podia ser atendido um suplicante de cada vez.
No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido Deus, em real "pessoa", à porta das orações, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei ao Querubim, e ele perguntou, Toda ou só um bocadinho. Deus duvidou por um instante, mas depois percebeu que pareceria mal, o Todo-Poderoso falar com um fiel através de uma fresta, Toda, ordenou Deus.
O inopinado aparecimento de Deus (nunca tal coisa havia sucedido desde que ele andava de auréola na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos oradores, mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomaram-se nas janelas das casas celestiais, do outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo atrás de respostas.
Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, Deus tratou logo de fazer 3 perguntas seguidas, Que é que tu queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me respostas, disse. O assombro deixou Deus a tal ponto desconcertado, que o Querubim tratou logo de pegar o banquinho o qual ele próprio usava quando precisava trabalhar.
Mal sentado, pois o banquinho era pequeno e incômodo, Deus perguntou, meio a contragosto, E tu quais respostas desejas obter, pode-se saber, Eu quero saber por que não me fizeste ignorante como muitos outros, respondeu o homem, Mas a ignorância é um defeito, e não uma qualidade, respondeu Deus, disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, Pelo contrário, a ignorância é a maior das virtudes, respondeu o homem, Disparate, eu criei os defeitos e as virtudes e sei quais são quais, respondeu Deus, Quem foi que te disse, Deus, que as vezes as coisas não podem se modificar ao longo do tempo, Porque elas sempre foram assim, Elas sempre foram até mudar, Eu sou o Deus desse mundo e sei o que muda e o que não muda, sem mim vocês não são nada, Pelo contrário Deus, sem nós tu não és nada, sem nossa crença, nossa fé, o senhor não teria razão para existir, mas nós continuaríamos.
Deus, um pouco mais sério, perguntou-lhe, Então me digas por que a ignorância se tornou uma virtude, Porque, Deus, graças a ela as pessoas podem ser felizes, respondeu o homem, Como assim felizes, Bom, as pessoas ignorantes, não se preocupam se vêem aqueles que deveriam nos ajudar nos prejudicam, não se preocupam com as injustiças, nem com os problemas do mundo, nem com a vida sofrida alheia, Deus, elas só se preocupam em serem felizes, sem ligar para o que passa sua volta, fingindo que não é com elas, ou mesmo não entendendo o que se passa ao seu redor, pelo contrário, elas precisam de pouco para serem felizes, não importa se tem gente passando fome, se tem gente morrendo pela violência, gente largada na rua, o que importa é dar a oferenda ao senhor, ir a missa todos os domingos, mesmo que quando sair da igreja faça tudo ao contrário, o que importa é ver seu time vencer, e ter a cerveja do final de semana para comemorar.
Então, afinal, o que é que desejas, perguntou-lhe Deus, Desejo que me faça um ser ignorante, Pois bem então, vou dar-te a ignorância, mas as conseqüências serão tuas. Os gritos e aplausos do público não deixaram Deus ouvir o agradecimento do homem e nem seu pedido de um fígado extra para as cervejas dos finais de semana. Deus já havia voltado a porta das oferendas, e a hierarquia na porta das orações voltava a ser a mesma. Pelo menos por enquanto..."
_________________________________________________________________
Se quiserem me xingar de Herege, me xinguem com conteúdo! Hahahahaha!
E fica aqui uma pergunta: Será que valeria a pena ser ignorante e alienado em prol da própria felicidade? Cá pra mim, não sei!
Abraço!
terça-feira, 1 de abril de 2008
A Grande Mentira
Os risos abafados se revezavam com escassos e singelos choros e exclamações de dor. Os sorrisos pelo ambiente se misturavam com as lágrimas. Aquilo poderia parecer tudo, menos o que era. Um velório.
Mas como esperar uma morte comum, de alguém que, em momento nenhum da vida, tivera essa característica como marca de sua personalidade? Não, ele não era comum. Nem incomum ou raro. Ele era único.
Seus pais, um palhaço aposentado e uma professora primária de história, deram-lhe o nome de Lord Kimb. Uma analogia, é claro ao Deus Nórdico da trapaça, LoKi. E nunca um nome serviu tão bem à uma pessoa, quanto para ele. Não se sabe se o nome o tinha inspirado, a fazer o que fazia, mas uma coisa era certa: ninguém tinha a capacidade de enganar tão bem quanto ele.
Desde criança, ele manifestava essa peculiaridade. Induzia os colegas todos a se unirem para realizarem alguma coisa grande, que seria impossível de ser feita sozinha, e enganava a todos para conseguir o que queria, ou muitas vezes por capricho, para mostrar a sua superioridade em relação aos demais. Quem poderia resistir aquele enorme e carismático sorriso? Sem mencionar os olhos, tão verdadeiros que pareciam falsos! E tão falsos, que pareciam verdadeiros...
Mas isso era só o começo daquela longa, e agora trágica, jornada através dos diversos campos da manipulação e da perspicácia. As "brincadeiras" foram ficando maiores, assim como os desejos e a megalomania mais do que insana. Cada vez mais, ele queria provar que era superior, melhor, mais esperto. E usava de todas suas artimanhas para enganar qualquer um que "ameaçava" sua hegemonia intelectual.
Aos poucos o que começou como diversão, foi se tornando seu modo de vida. Ele não trabalhava mais. Não era necessário. A facilidade em aplicar um golpe, e a enorme rentabilidade que eles lhe proporcionavam, era mais do que suficiente para largar toda e qualquer tentativa de "vencer" honestamente.
Não, ele não precisava disso. Isso era para os fracos, os desprovidos de um intelecto superior como o dele. Ele era melhor que todos eles e não iria perder seu tempo naquele ciclo vicioso que não o levaria a lugar nenhum. Pra que usar a escada, se ele tinha um elevador a sua disposição?
Ele não acreditava em Deus. Ou talvez até acreditasse, mas a idéia de ter alguém que sabia mais que ele, era assustadora. Ele acreditava nele mesmo. E era mais do que suficiente.
Já tinha interpretado todo tipo de papel naquela enorme peça que era a vida. E com um palco do tamanho da Terra, oportunidades era o que não lhe faltava. Empresário de sucesso, esportista premiado, autor de best-sellers, herdeiro de uma nobre família inglesa, professor acadêmico (e este tinha tido um sabor mais do que especial! Como fora bom enganar aqueles que se julgavam mais inteligentes que ele!), arqueólogo, em raras ocasiões, até mesmo mendigo. Cada papel que "interpretava", lhe dava a certeza de que ele era o melhor que todos os outros.
Mas como toda boa tragédia, o teatro da vida reservava suas surpresas e ironias. Aquela certeza de superioridade que Lord Kimb sempre buscou, aquela que ele julgava ser sua maior vantagem, acabou se transformando na sua maior fraqueza.
Aquela megalomania excessiva, aquele senso de superioridade imenso, o egocentrismo mais do que exacerbado, fizeram com que o trapaceiro fosse pego em sua própria trapaça. Ele, que desde o começo tratava seus jogos manipuladores como obras de arte, cometera o maior erro que um artista como ele poderia cometer. Assinar sua obra.
Ninguém nunca tinha descoberto suas farsas, e no final, ele sempre saia rindo de tudo e de todos, idiotas inferiores, que só serviam para sua sádica diversão. Mas por um pequeno descuido, um simples ato falho, fez ruir seu império de sadismo e mentiras. Ele fora descoberto. Alguém, em algum lugar, tinha conseguido ganhar dele em seu próprio jogo.
Existe algo pior para alguém que se achava superior por ser perfeito na arte de enganar, do que ser enganado? Aquilo era mais do que ele poderia suportar. Aquela busca pela perfeição o tinha deixado louco, e a descoberta que ele não era imune o fizeram tomar aquela última e desesperada atitude.
Uma arma em punho, uma bala no tambor, um dedo no gatilho, um barulho ensurdecedor e um rastro de sangue. Tudo tinha ido embora em um instante, em um segundo. Toda aquela teia de falsidades que ele teceu ao longo da vida, ruira com uma simples bala. O teatro da vida tivera seu Gran Finale.
O seu velório continuava com aquele jeito peculiar. Mas pra uma vida repleta de peculiaridades, o que seria uma morte simplória? Ele vivera pela mentira, e não tinha outro jeito de morrer, se não fosse por ela. E mesmo após a morte, as mentiras continuavam. Fosse tristeza, fosse alegria, a sinceridade não era algo presente naquele lugar.
Mas quem sabe, aquele enorme e carismático sorriso, aliado com aquele olhar verdadeiro, não tivera a chance de realizar uma última e derradeira trapaça? Quem sabe ele não tenha tido a chance de enganar a própria morte e esteja vagando por aí, como um mendigo, um professor, ou um empresário de sucesso, como um coadjuvante a espera de reassumir seu papel de destaque na maior de todas as peças? Sinceramente? Não sei...
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Feliz dia da Mentira!
Mas como esperar uma morte comum, de alguém que, em momento nenhum da vida, tivera essa característica como marca de sua personalidade? Não, ele não era comum. Nem incomum ou raro. Ele era único.
Seus pais, um palhaço aposentado e uma professora primária de história, deram-lhe o nome de Lord Kimb. Uma analogia, é claro ao Deus Nórdico da trapaça, LoKi. E nunca um nome serviu tão bem à uma pessoa, quanto para ele. Não se sabe se o nome o tinha inspirado, a fazer o que fazia, mas uma coisa era certa: ninguém tinha a capacidade de enganar tão bem quanto ele.
Desde criança, ele manifestava essa peculiaridade. Induzia os colegas todos a se unirem para realizarem alguma coisa grande, que seria impossível de ser feita sozinha, e enganava a todos para conseguir o que queria, ou muitas vezes por capricho, para mostrar a sua superioridade em relação aos demais. Quem poderia resistir aquele enorme e carismático sorriso? Sem mencionar os olhos, tão verdadeiros que pareciam falsos! E tão falsos, que pareciam verdadeiros...
Mas isso era só o começo daquela longa, e agora trágica, jornada através dos diversos campos da manipulação e da perspicácia. As "brincadeiras" foram ficando maiores, assim como os desejos e a megalomania mais do que insana. Cada vez mais, ele queria provar que era superior, melhor, mais esperto. E usava de todas suas artimanhas para enganar qualquer um que "ameaçava" sua hegemonia intelectual.
Aos poucos o que começou como diversão, foi se tornando seu modo de vida. Ele não trabalhava mais. Não era necessário. A facilidade em aplicar um golpe, e a enorme rentabilidade que eles lhe proporcionavam, era mais do que suficiente para largar toda e qualquer tentativa de "vencer" honestamente.
Não, ele não precisava disso. Isso era para os fracos, os desprovidos de um intelecto superior como o dele. Ele era melhor que todos eles e não iria perder seu tempo naquele ciclo vicioso que não o levaria a lugar nenhum. Pra que usar a escada, se ele tinha um elevador a sua disposição?
Ele não acreditava em Deus. Ou talvez até acreditasse, mas a idéia de ter alguém que sabia mais que ele, era assustadora. Ele acreditava nele mesmo. E era mais do que suficiente.
Já tinha interpretado todo tipo de papel naquela enorme peça que era a vida. E com um palco do tamanho da Terra, oportunidades era o que não lhe faltava. Empresário de sucesso, esportista premiado, autor de best-sellers, herdeiro de uma nobre família inglesa, professor acadêmico (e este tinha tido um sabor mais do que especial! Como fora bom enganar aqueles que se julgavam mais inteligentes que ele!), arqueólogo, em raras ocasiões, até mesmo mendigo. Cada papel que "interpretava", lhe dava a certeza de que ele era o melhor que todos os outros.
Mas como toda boa tragédia, o teatro da vida reservava suas surpresas e ironias. Aquela certeza de superioridade que Lord Kimb sempre buscou, aquela que ele julgava ser sua maior vantagem, acabou se transformando na sua maior fraqueza.
Aquela megalomania excessiva, aquele senso de superioridade imenso, o egocentrismo mais do que exacerbado, fizeram com que o trapaceiro fosse pego em sua própria trapaça. Ele, que desde o começo tratava seus jogos manipuladores como obras de arte, cometera o maior erro que um artista como ele poderia cometer. Assinar sua obra.
Ninguém nunca tinha descoberto suas farsas, e no final, ele sempre saia rindo de tudo e de todos, idiotas inferiores, que só serviam para sua sádica diversão. Mas por um pequeno descuido, um simples ato falho, fez ruir seu império de sadismo e mentiras. Ele fora descoberto. Alguém, em algum lugar, tinha conseguido ganhar dele em seu próprio jogo.
Existe algo pior para alguém que se achava superior por ser perfeito na arte de enganar, do que ser enganado? Aquilo era mais do que ele poderia suportar. Aquela busca pela perfeição o tinha deixado louco, e a descoberta que ele não era imune o fizeram tomar aquela última e desesperada atitude.
Uma arma em punho, uma bala no tambor, um dedo no gatilho, um barulho ensurdecedor e um rastro de sangue. Tudo tinha ido embora em um instante, em um segundo. Toda aquela teia de falsidades que ele teceu ao longo da vida, ruira com uma simples bala. O teatro da vida tivera seu Gran Finale.
O seu velório continuava com aquele jeito peculiar. Mas pra uma vida repleta de peculiaridades, o que seria uma morte simplória? Ele vivera pela mentira, e não tinha outro jeito de morrer, se não fosse por ela. E mesmo após a morte, as mentiras continuavam. Fosse tristeza, fosse alegria, a sinceridade não era algo presente naquele lugar.
Mas quem sabe, aquele enorme e carismático sorriso, aliado com aquele olhar verdadeiro, não tivera a chance de realizar uma última e derradeira trapaça? Quem sabe ele não tenha tido a chance de enganar a própria morte e esteja vagando por aí, como um mendigo, um professor, ou um empresário de sucesso, como um coadjuvante a espera de reassumir seu papel de destaque na maior de todas as peças? Sinceramente? Não sei...
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Feliz dia da Mentira!
sexta-feira, 14 de março de 2008
Fragmento...
Aí vai um pedaço de um negócio novo que eu tô escrevendo. Se vcs gostarem eu posto mais!
"Fazia menos de uma semana que ele tinha saido da prisão. Apesar da "liberdade" reconquistada, ele se sentia mais sozinho do que nunca. Quando fora preso, ele tinha alguém aqui fora que o "amava", amigos de quem gostava, um emprego e todo o resto de uma vida tida como normal.
Mas tudo tinha ido embora naqueles 6 anos. Aqueles malditos 6 anos. Ele lembrava como se fosse hoje do dia em que foi preso. Tentativa de Homicídio. Como se encher um "bacana" de porrada fosse tentativa de homicídio. Pouco importava que ele fez tudo aquilo pra defender sua mulher. A justiça nunca era justa mesmo.
Na prisão, melhor do que em qualquer outro lugar ele descobriu isso. Foram tantas pessoas com quem ele dividiu a cela, que os que foram condenados injustamente eram impossíveis de contar. Mas ele não tinha pena deles. Assim como ninguém teve pena dele. Lá ele aprendeu que você já tem problemas demais na sua vida pra se preocupar com os problemas dos outros. Não importando o que fosse, ou quem fosse.
E isso, aliado ao seu jeito de "troglodita estúpido" que fizeram ele ficar vivo naquele inferno. Ele não era de falar muito, e sim de observar. E na prisão, se você não ficar atento o tempo todo, você põe tudo a perder. Só que agora ele via que o verdadeiro inferno era do lado de fora. Ele estava sozinho. Sem mulher, sem amigos, sem dinheiro. Tudo que um dia fora importante pra ele tinha ido embora.
Aquela noite era a primeira que ele saía pra tentar aliviar a pressão desse inferno a céu aberto que ele vivia. Com o que ele tinha, não conseguiria nada melhor que umas duas ou três cervejas numa espelunca qualquer. E foi exatamente isso que ele conseguiu.
Do seu lado, um bêbado batendo no que parecia ser sua mulher. Em outros tempos, ele iria se meter na briga e quebrar a cara do homem. Foi como ele aprendeu na prisão. Ele já tinha problemas demais pra se preocupar com os dos outros.
Do outro lado, uma puta, com um perfume barato e forte demais, se insinuando pra ele, querendo garantir o ganho da noite. Mal sabia ela que ele não tinha grana nem pra começar qualquer coisa com ela. Mas ele não falava nada. Era bom ver uma mulher atrás dele depois de todo esse tempo, mesmo que ela só quisesse dinheiro.
Mas num instante, tudo desapareceu. A única coisa que ele conseguia ver, era ela. Um pouco mais baixa que ele, cabelos na altura dos ombros, magra, esbelta, com uma tatuagem que cobria boa parte do braço. Não era o estereótipo de uma "princesa de conto de fadas", mas ele passava longe de um "príncipe encantado".
Aos poucos ele voltou a realidade. Tinha jurado a si mesmo não se apaixonar por mais nenhuma mulher. Tinha perdido boa parte de sua vida por causa de uma, e o que ele ganhou com isso? Nada. Provavelmente a essa hora, a mulher que jurou ama-lo para sempre, estaria trepando com um idiota pior que ele. Não, ele não ia cometer o mesmo erro duas vezes.
Ela passou por ele como se não tivesse ninguém lá. Foi em direção a um h0mem, cheio de pulseiras e cordões, com um jeito estúpido e canalha, e entregou umas 3 notas pra ele. Mas parece que não era suficiente.
O homem, provavelmente o seu cafetão, levantou e deu-lhe um tapa no rosto. Ela estava caída no chão, mas não era suficiente pra ele. Levantou e chutou aquela mulher, frágil e indefesa. Não importa o que ela tenha feito, nada podia ser tão cruel a esse ponto.
Mas ninguém mais parecia se incomodar com a cena além dele. A garota sendo espancada por um idiota, e todos agindo como se fosse um simples gesto de afeto. Aquilo era demais. Até mesmo pra ele.
Ele levantou. Foi em direção aos dois lentamente. Apesar da voz na sua cabeça mandando ele não se envolver, o sangue subindo a sua cabeça era mais forte. Pouco mais de dois metros o separavam agora dos dois. E sua presença já tinha sido notada pelo idiota covarde.
- Tá olhando o que, babaca?
- Deixa ela em paz.
- Aaaah, vai a merda!
- Deixa ela em paz.
- Quem tu tá pensando que é? Tá querendo morrer?
- Deixa ela em paz. Eu não vou falar de novo.
Mais um chute. E pela intensidade do sangue cuspido, foi mais forte que os outros.
- E agora, valentão?
Tudo aconteceu numa fração de segundo..."
Continua :P
Vcs realmente acharam que eu entregar tudo de bandeja?
"Fazia menos de uma semana que ele tinha saido da prisão. Apesar da "liberdade" reconquistada, ele se sentia mais sozinho do que nunca. Quando fora preso, ele tinha alguém aqui fora que o "amava", amigos de quem gostava, um emprego e todo o resto de uma vida tida como normal.
Mas tudo tinha ido embora naqueles 6 anos. Aqueles malditos 6 anos. Ele lembrava como se fosse hoje do dia em que foi preso. Tentativa de Homicídio. Como se encher um "bacana" de porrada fosse tentativa de homicídio. Pouco importava que ele fez tudo aquilo pra defender sua mulher. A justiça nunca era justa mesmo.
Na prisão, melhor do que em qualquer outro lugar ele descobriu isso. Foram tantas pessoas com quem ele dividiu a cela, que os que foram condenados injustamente eram impossíveis de contar. Mas ele não tinha pena deles. Assim como ninguém teve pena dele. Lá ele aprendeu que você já tem problemas demais na sua vida pra se preocupar com os problemas dos outros. Não importando o que fosse, ou quem fosse.
E isso, aliado ao seu jeito de "troglodita estúpido" que fizeram ele ficar vivo naquele inferno. Ele não era de falar muito, e sim de observar. E na prisão, se você não ficar atento o tempo todo, você põe tudo a perder. Só que agora ele via que o verdadeiro inferno era do lado de fora. Ele estava sozinho. Sem mulher, sem amigos, sem dinheiro. Tudo que um dia fora importante pra ele tinha ido embora.
Aquela noite era a primeira que ele saía pra tentar aliviar a pressão desse inferno a céu aberto que ele vivia. Com o que ele tinha, não conseguiria nada melhor que umas duas ou três cervejas numa espelunca qualquer. E foi exatamente isso que ele conseguiu.
Do seu lado, um bêbado batendo no que parecia ser sua mulher. Em outros tempos, ele iria se meter na briga e quebrar a cara do homem. Foi como ele aprendeu na prisão. Ele já tinha problemas demais pra se preocupar com os dos outros.
Do outro lado, uma puta, com um perfume barato e forte demais, se insinuando pra ele, querendo garantir o ganho da noite. Mal sabia ela que ele não tinha grana nem pra começar qualquer coisa com ela. Mas ele não falava nada. Era bom ver uma mulher atrás dele depois de todo esse tempo, mesmo que ela só quisesse dinheiro.
Mas num instante, tudo desapareceu. A única coisa que ele conseguia ver, era ela. Um pouco mais baixa que ele, cabelos na altura dos ombros, magra, esbelta, com uma tatuagem que cobria boa parte do braço. Não era o estereótipo de uma "princesa de conto de fadas", mas ele passava longe de um "príncipe encantado".
Aos poucos ele voltou a realidade. Tinha jurado a si mesmo não se apaixonar por mais nenhuma mulher. Tinha perdido boa parte de sua vida por causa de uma, e o que ele ganhou com isso? Nada. Provavelmente a essa hora, a mulher que jurou ama-lo para sempre, estaria trepando com um idiota pior que ele. Não, ele não ia cometer o mesmo erro duas vezes.
Ela passou por ele como se não tivesse ninguém lá. Foi em direção a um h0mem, cheio de pulseiras e cordões, com um jeito estúpido e canalha, e entregou umas 3 notas pra ele. Mas parece que não era suficiente.
O homem, provavelmente o seu cafetão, levantou e deu-lhe um tapa no rosto. Ela estava caída no chão, mas não era suficiente pra ele. Levantou e chutou aquela mulher, frágil e indefesa. Não importa o que ela tenha feito, nada podia ser tão cruel a esse ponto.
Mas ninguém mais parecia se incomodar com a cena além dele. A garota sendo espancada por um idiota, e todos agindo como se fosse um simples gesto de afeto. Aquilo era demais. Até mesmo pra ele.
Ele levantou. Foi em direção aos dois lentamente. Apesar da voz na sua cabeça mandando ele não se envolver, o sangue subindo a sua cabeça era mais forte. Pouco mais de dois metros o separavam agora dos dois. E sua presença já tinha sido notada pelo idiota covarde.
- Tá olhando o que, babaca?
- Deixa ela em paz.
- Aaaah, vai a merda!
- Deixa ela em paz.
- Quem tu tá pensando que é? Tá querendo morrer?
- Deixa ela em paz. Eu não vou falar de novo.
Mais um chute. E pela intensidade do sangue cuspido, foi mais forte que os outros.
- E agora, valentão?
Tudo aconteceu numa fração de segundo..."
Continua :P
Vcs realmente acharam que eu entregar tudo de bandeja?
terça-feira, 4 de março de 2008
Hiato
Falta de Internet + Falta de inspiração + Falta de motivação = Sem texto novo por um bom tempo!!
Quando os 3 voltarem, eu volto com isso aqui!
Beijos
Rafael Puime
Quando os 3 voltarem, eu volto com isso aqui!
Beijos
Rafael Puime
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Nostalgia...
Se é verdade que nos seus "minutos finais" você vê a sua vida toda passar como um filme através dos olhos, então esse momento chegara. Não que ele quisesse partir, mas ele já não tinha a força (e nem a determinação) necessária pra ficar. Mas ao contrário do que pensavam, ele não se incomodava nem um pouco com isso.
Em números, ele tinha vivido pouco, é verdade. Mas tinha vivido cada pequeno momento, cada segundo de sua existência de uma maneira tão intensa, que era um grande equívoco dizer que ele vivera pouco. Em pouco tempo, ele vivera muito.
E o filme começava como aqueles filmes infantis, com ele no auge de seus nove anos, correndo atrás do cachorro, no quintal (e que quintal!) da casa dos avós maternos. A goiabeira em que ele costuma subir pra roubar as frutas e se deliciar durante toda a tarde ainda estava lá. E que saudade daquela goiabeira. Ou melhor, que saudade daquela infância!
A próxima cena do filme já era aquele clássico clichê de filme adolescente norte-americano. Os tempos áureos do colégio (de freira, é lógico), em que nada mais importava além das garotas. E com as primeiras paixões, vieram as primeiras decepções, os primeiros porres e os primeiros (de muitos) recomeços. E estava tudo novamente ali, na sua frente.
Cada momento importante vivido estava agora ali, na sua frente, naquela película imaginária a qual somente ele era capaz de ver. E a trilha sonora desse filme só era atrapalhada pelo som ritmado que vinha dos aparelhos. E que aos poucos iam diminuindo o ritmo.
Os presentes naquele momento, vez ou outra também estavam presentes no seu "filme" (e ele não entendia até agora como teve coragem de usar aquele cabelo!). E talvez, mais tarde, eles se encontrassem novamente, num remake ou numa continuação daquele filme biográfico. Mas saber que as pessoas que realmente importavam pra ele estavam presentes em momentos igualmente importantes já era satisfatório o suficiente.
E aos poucos, a sua viagem ia chegando ao ponto final (ou talvez ao ponto de partida!). Os compassos ritmados de seus batimentos cardíacos eram cada vez mais lentos. E o sorriso em sua face, cada vez maior. Ele partia, mas partia feliz.
O momento nostálgico havia chegado ao fim. Talvez o "fim" fosse só o começo. Talvez agora, ele pudesse subir novamente naquela velha goiabeira da casa dos seus avós maternos, da qual não restava nem um tijolo. A única certeza naquele momento, era que ele partia com a sensação de dever cumprido.
O som dos aparelhos havia parado. O último acorde da sua orquestra vital acabara de ser tocado. As lágrimas rolavam pelo quarto. O único sorriso naquele momento, era dele.
____________________________________________________________________
Aproveitando o post pra agradecer a Denise que me mandou esses 2 selos pro meu blog! E indicar mais 3 que valem a pena!
Vírgula Antenada
Arthur Lopes
Blog do Barzinho
E mandar meus sinceros agradecimentos pra todos que visitam essa budega aqui! Que sem vcs isso não ia pra frente! Valeu!
Em números, ele tinha vivido pouco, é verdade. Mas tinha vivido cada pequeno momento, cada segundo de sua existência de uma maneira tão intensa, que era um grande equívoco dizer que ele vivera pouco. Em pouco tempo, ele vivera muito.
E o filme começava como aqueles filmes infantis, com ele no auge de seus nove anos, correndo atrás do cachorro, no quintal (e que quintal!) da casa dos avós maternos. A goiabeira em que ele costuma subir pra roubar as frutas e se deliciar durante toda a tarde ainda estava lá. E que saudade daquela goiabeira. Ou melhor, que saudade daquela infância!
A próxima cena do filme já era aquele clássico clichê de filme adolescente norte-americano. Os tempos áureos do colégio (de freira, é lógico), em que nada mais importava além das garotas. E com as primeiras paixões, vieram as primeiras decepções, os primeiros porres e os primeiros (de muitos) recomeços. E estava tudo novamente ali, na sua frente.
Cada momento importante vivido estava agora ali, na sua frente, naquela película imaginária a qual somente ele era capaz de ver. E a trilha sonora desse filme só era atrapalhada pelo som ritmado que vinha dos aparelhos. E que aos poucos iam diminuindo o ritmo.
Os presentes naquele momento, vez ou outra também estavam presentes no seu "filme" (e ele não entendia até agora como teve coragem de usar aquele cabelo!). E talvez, mais tarde, eles se encontrassem novamente, num remake ou numa continuação daquele filme biográfico. Mas saber que as pessoas que realmente importavam pra ele estavam presentes em momentos igualmente importantes já era satisfatório o suficiente.
E aos poucos, a sua viagem ia chegando ao ponto final (ou talvez ao ponto de partida!). Os compassos ritmados de seus batimentos cardíacos eram cada vez mais lentos. E o sorriso em sua face, cada vez maior. Ele partia, mas partia feliz.
O momento nostálgico havia chegado ao fim. Talvez o "fim" fosse só o começo. Talvez agora, ele pudesse subir novamente naquela velha goiabeira da casa dos seus avós maternos, da qual não restava nem um tijolo. A única certeza naquele momento, era que ele partia com a sensação de dever cumprido.
O som dos aparelhos havia parado. O último acorde da sua orquestra vital acabara de ser tocado. As lágrimas rolavam pelo quarto. O único sorriso naquele momento, era dele.
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Aproveitando o post pra agradecer a Denise que me mandou esses 2 selos pro meu blog! E indicar mais 3 que valem a pena!
Vírgula Antenada
Arthur Lopes
Blog do Barzinho
E mandar meus sinceros agradecimentos pra todos que visitam essa budega aqui! Que sem vcs isso não ia pra frente! Valeu!
sábado, 16 de fevereiro de 2008
O destino da solidão... Ou a solidão do destino...
Todas as noites, no mesmo banco no canto do balcão, com a mesma dose de whisky e o mesmo olhar pensativo. Ninguém sabia seu nome, o que fazia ou de onde vinha. Era conhecido como Solitário mas acho que em sua solidão, ele estava melhor acompanhado que a maioria de nós.
Nos primeiros meses, todos se indagavam quem seria o misterioso homem. Mas com o passar dos anos a sua presença e os seus motivos deixaram de ser assunto. Alguns achavam que ele escondia um passado terrível. Outros, que ele tinha medo do futuro. E outros simplesmente nem ligavam pra ele.
Em todos aqueles anos, o Solitário só falara 2 vezes. Na primeira vez que chegou, que me pediu uma dose de whisky, e alguns anos depois, com uma mulher que queria fazer-lhe companhia.
Fora um fato curioso. Me lembro daquela noite como se fosse hoje. Tudo parecia no lugar, os bêbados discutindo, os rapazes na sinuca e ele mais uma vez estava entretido no seu silêncio. Até a aproximação dela...
O perfume era doce demais, e a maquilagem mais do que necessária. Mas ela era uma mulher bonita. Bonita o suficiente para não esperar esquivas ou rejeições, de quem quer que fosse. Ela ia se aproximando lentamente, tentando puxar assunto, tentando fazer ele esboçar qualquer reação. O mistério em torno dele o tornava um objeto de desejo para ela. Mas a única coisa que ela conseguiu fazer (e já foi mais do que qualquer outro jamais conseguiu), foi ouvir:
- Não tire minha solidão se não conseguir me oferecer uma companhia que realmente valha a pena...
Foi um momento único, e como todos os momentos únicos, nunca mais se repetiu. E não era preciso. A cara desconcertada dela, e a expressão imutável dele mostravam o contraste de valores da situação para cada um deles. Para ela, uma ofensa fatal. Para ele, era como se nada tivesse acontecido.
E os anos foram passando. Os traços da idade apontavam gradativamente em meu rosto, mas ele parecia ser imune as areias do tempo. Os anos passaram e ele não mudara nada, sempre com a mesma expressão, com a mesma dose de whisky e com o mesmo olhar pensativo.
Confesso que eu sentia um afeto quase fraternal pelo Solitário. Afinal, após vários anos de "convivência", a gente acaba se preocupando com as pessoas, por mais distantes que elas pareçam estar. E foi por causa disso que eu senti como se tivesse perdido um irmão quando ele simplesmente desapareceu.
A opinião geral é que ele morrera no trajeto pra casa. Outros, mais criativos, dizem que seu passado terrível fora descoberto e ele teve que ir embora. Uns dizem que finalmente o destino o encontrou.Mas eu prefiro acreditar que ele finalmente foi de encontro ao seu destino. E torço com todas as minhas forças que ele o tenha encontrado...
Nos primeiros meses, todos se indagavam quem seria o misterioso homem. Mas com o passar dos anos a sua presença e os seus motivos deixaram de ser assunto. Alguns achavam que ele escondia um passado terrível. Outros, que ele tinha medo do futuro. E outros simplesmente nem ligavam pra ele.
Em todos aqueles anos, o Solitário só falara 2 vezes. Na primeira vez que chegou, que me pediu uma dose de whisky, e alguns anos depois, com uma mulher que queria fazer-lhe companhia.
Fora um fato curioso. Me lembro daquela noite como se fosse hoje. Tudo parecia no lugar, os bêbados discutindo, os rapazes na sinuca e ele mais uma vez estava entretido no seu silêncio. Até a aproximação dela...
O perfume era doce demais, e a maquilagem mais do que necessária. Mas ela era uma mulher bonita. Bonita o suficiente para não esperar esquivas ou rejeições, de quem quer que fosse. Ela ia se aproximando lentamente, tentando puxar assunto, tentando fazer ele esboçar qualquer reação. O mistério em torno dele o tornava um objeto de desejo para ela. Mas a única coisa que ela conseguiu fazer (e já foi mais do que qualquer outro jamais conseguiu), foi ouvir:
- Não tire minha solidão se não conseguir me oferecer uma companhia que realmente valha a pena...
Foi um momento único, e como todos os momentos únicos, nunca mais se repetiu. E não era preciso. A cara desconcertada dela, e a expressão imutável dele mostravam o contraste de valores da situação para cada um deles. Para ela, uma ofensa fatal. Para ele, era como se nada tivesse acontecido.
E os anos foram passando. Os traços da idade apontavam gradativamente em meu rosto, mas ele parecia ser imune as areias do tempo. Os anos passaram e ele não mudara nada, sempre com a mesma expressão, com a mesma dose de whisky e com o mesmo olhar pensativo.
Confesso que eu sentia um afeto quase fraternal pelo Solitário. Afinal, após vários anos de "convivência", a gente acaba se preocupando com as pessoas, por mais distantes que elas pareçam estar. E foi por causa disso que eu senti como se tivesse perdido um irmão quando ele simplesmente desapareceu.
A opinião geral é que ele morrera no trajeto pra casa. Outros, mais criativos, dizem que seu passado terrível fora descoberto e ele teve que ir embora. Uns dizem que finalmente o destino o encontrou.Mas eu prefiro acreditar que ele finalmente foi de encontro ao seu destino. E torço com todas as minhas forças que ele o tenha encontrado...
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Forças e Fraquezas...
Ela sentia frio. Daqueles frios que a insegurança e a saudade criam. Daqueles frios que só um tipo de calor pode aquecer. O calor humano...
Ela era forte. Sempre conseguiu se virar sozinha, cuidar de si mesma, e isso era motivo de orgulho próprio. Tinha suas próprias opiniões, metas e objetivos, e não se intimidava perante os obstáculos que vez ou outra surgiam. Mas naquele momento, a sua força parecia ser ineficaz.
Talvez fosse a saudade de casa, talvez fossem os medos, talvez fosse a "solidão". Seus olhos mostravam uma fraqueza incomum, uma vulnerabilidade rara. Ela estava com frio, e não conseguia se aquecer...
Olhou pras fotos na estante. Relembrou a infância e a época em que não tinha preocupações nem responsabilidades. Relembrou a família e os momentos aconchegantes e calorosos que passava ao lado de cada membro dela. Relembrou os amigos e a alegria que era estar ao lado deles, fosse numa sala de aula, numa mesa de sinuca, ou em qualquer outro lugar.
Não. Ela definitivamente não estava sozinha. E aos poucos, as lembranças criaram o calor necessário para a aquecer. E aqueles olhos que a pouco estavam com um olhar triste, brilhavam a cada boa lembrança. Ela voltara a ser forte. Pelo menos por enquanto...
___________________________________________________________________
Tá, eu sei que não tá muito bom, mas eu to meio sem criatividade por esses dias, e precisava escrever algo sobre isso. De qualquer forma, quando a criatividade voltar eu escrevo mais alguma coisa! Abração!
Ela era forte. Sempre conseguiu se virar sozinha, cuidar de si mesma, e isso era motivo de orgulho próprio. Tinha suas próprias opiniões, metas e objetivos, e não se intimidava perante os obstáculos que vez ou outra surgiam. Mas naquele momento, a sua força parecia ser ineficaz.
Talvez fosse a saudade de casa, talvez fossem os medos, talvez fosse a "solidão". Seus olhos mostravam uma fraqueza incomum, uma vulnerabilidade rara. Ela estava com frio, e não conseguia se aquecer...
Olhou pras fotos na estante. Relembrou a infância e a época em que não tinha preocupações nem responsabilidades. Relembrou a família e os momentos aconchegantes e calorosos que passava ao lado de cada membro dela. Relembrou os amigos e a alegria que era estar ao lado deles, fosse numa sala de aula, numa mesa de sinuca, ou em qualquer outro lugar.
Não. Ela definitivamente não estava sozinha. E aos poucos, as lembranças criaram o calor necessário para a aquecer. E aqueles olhos que a pouco estavam com um olhar triste, brilhavam a cada boa lembrança. Ela voltara a ser forte. Pelo menos por enquanto...
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Tá, eu sei que não tá muito bom, mas eu to meio sem criatividade por esses dias, e precisava escrever algo sobre isso. De qualquer forma, quando a criatividade voltar eu escrevo mais alguma coisa! Abração!
sábado, 5 de janeiro de 2008
Sobre Leões e Taças de Vinho...
Ele saiu apressado daquele salão. A música alta, o barulho das pessoas conversando assuntos inúteis, o calor excessivo, o ar pesado e difícil de respirar tornavam aquele lugar insuportável. Correu em direção a porta, se desviando de quem tivesse em seu caminho.
O ar lá fora era melhor. Mais leve, mais frio, mais silencioso. Ele se sentia melhor longe daquilo tudo. Por mais que se esforçasse, ele nunca conseguia se acostumar com tudo aquilo.
Sua taça de vinho balançava lentamente por entre seus dedos. Seu reflexo invertido na taça, o fazia pensar. Será que ele estava sendo ele mesmo, ou tentando ser algo que não era e nem nunca iria ser.
- Não aguentou ficar lá dentro?
- É... essas festas nunca me deixam a vontade... - Respondeu, meio perplexo pela presença dele lá.
- Eu lembro bem disso. Desde criança você é assim. Nunca gostou dessas reuniões cheias de gente. Sempre preferia ficar só, no seu canto.
- Você lembra coisas demais meu amigo... aquele tempo já passou, e eu tento ser diferente agora.
- Mas as suas tentativas continuam se mostrando ineficazes, certo? Não adianta, por mais que você queira mudar, você não vai conseguir. Pode parecer terrível, mas é verdade...
A chuva começou a cair mais forte.
- Porque você acha isso?
- Você pode ver num zoológico qual leão nasceu em cativeiro e qual foi capturado. Os olhos do leão selvagem têm um brilho diferente, um jeito de fera aprisionada. Eles conheceram a liberdade e a perderam, e não se conformam com isso. Ao mesmo tempo, os leões que nascem em cativeiro não demonstram nada de diferente. Eles apenas vivem.
- Mas ambos acabam tendo o mesmo destino. Ambos continuam dentro de uma jaula, não importando sua origem.
- Tem certeza? Olha pra essa taça na sua mão. Pra que ela serve?
- Ora bolas, pra que uma taça serve? Para por vinho nela!
- E agora? - Falou, virando a taça de cabeça pra baixo e colocando a boca sobre a sacada onde estavam. - Mesmo que você ficasse anos tentando preenche-la com vinho, não conseguiria.
- Mas no final, ela continua sendo uma taça de vinho...
- Exato!! Acho que você entendeu o que eu queria dizer!!
- Acho que sim...
- Bom, eu vou voltar pra dentro. Você vem?
- Quem sabe mais tarde...
Mas ambos sabiam que aquele mais tarde nunca chegaria... A taça estava novamente virada pra cima. Tudo estava onde devia estar...
O ar lá fora era melhor. Mais leve, mais frio, mais silencioso. Ele se sentia melhor longe daquilo tudo. Por mais que se esforçasse, ele nunca conseguia se acostumar com tudo aquilo.
Sua taça de vinho balançava lentamente por entre seus dedos. Seu reflexo invertido na taça, o fazia pensar. Será que ele estava sendo ele mesmo, ou tentando ser algo que não era e nem nunca iria ser.
- Não aguentou ficar lá dentro?
- É... essas festas nunca me deixam a vontade... - Respondeu, meio perplexo pela presença dele lá.
- Eu lembro bem disso. Desde criança você é assim. Nunca gostou dessas reuniões cheias de gente. Sempre preferia ficar só, no seu canto.
- Você lembra coisas demais meu amigo... aquele tempo já passou, e eu tento ser diferente agora.
- Mas as suas tentativas continuam se mostrando ineficazes, certo? Não adianta, por mais que você queira mudar, você não vai conseguir. Pode parecer terrível, mas é verdade...
A chuva começou a cair mais forte.
- Porque você acha isso?
- Você pode ver num zoológico qual leão nasceu em cativeiro e qual foi capturado. Os olhos do leão selvagem têm um brilho diferente, um jeito de fera aprisionada. Eles conheceram a liberdade e a perderam, e não se conformam com isso. Ao mesmo tempo, os leões que nascem em cativeiro não demonstram nada de diferente. Eles apenas vivem.
- Mas ambos acabam tendo o mesmo destino. Ambos continuam dentro de uma jaula, não importando sua origem.
- Tem certeza? Olha pra essa taça na sua mão. Pra que ela serve?
- Ora bolas, pra que uma taça serve? Para por vinho nela!
- E agora? - Falou, virando a taça de cabeça pra baixo e colocando a boca sobre a sacada onde estavam. - Mesmo que você ficasse anos tentando preenche-la com vinho, não conseguiria.
- Mas no final, ela continua sendo uma taça de vinho...
- Exato!! Acho que você entendeu o que eu queria dizer!!
- Acho que sim...
- Bom, eu vou voltar pra dentro. Você vem?
- Quem sabe mais tarde...
Mas ambos sabiam que aquele mais tarde nunca chegaria... A taça estava novamente virada pra cima. Tudo estava onde devia estar...
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