Que Saramago me perdoe! O texto vai ser polêmico, não espero que muita gente entenda o verdadeiro sentido dele, mas eu gostei e queria ver a opinião de algumas pessoas, e peço que comentem só quem leu ele todo. Uma paródia religiosa ao conto da ilha desconhecida de José Saramago:
"Um homem foi bater a porta de Deus e disse-lhe; Dá-me respostas. A casa de Deus tinha muitas portas, mas aquela era a das orações. Como Deus passava quase todo tempo na porta dos oferendas (pra onde você achou que o dízimo ia?), ele muitas vezes esquecia da porta das orações, e só quando o som das trombetas dos Tronos ressoava alto pelo salão celestial e tirava o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, que Deus temos nós, que não atende), é que dava ordem ao Arcanjo mais próximo para saber o que era tão importante. Então, o Arcanjo chamava um Serafim, que chamava um anjo, e assim sucessivamente, até chegar em um Querubim, o qual não tendo ninguém a quem mandar, entreabria a porta das orações e perguntava pela fricha; Que é que tu queres? O suplicante dizia ao que vinha, ou seja, pedia o que tinha a pedir e depois instalava-se a um canto da porta, esperando a resposta. O pedido fazia o caminho inverso, e chegava ao Querubim a ordem de dizer sim ou não, conforme a Maré.
Contudo, no caso do homem que queria respostas, as coisas não se passaram bem assim. Quando o Querubim lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era costume de todos, saúde, riqueza, casamento, filhos, respondeu, Quero falar com Deus, Já sabes que Deus não pode vir, está na porta das oferendas, respondeu o Querubim, Pois então vá lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tampando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair só por cima dele. E isso era um problema, já que a pragmática das portas dizia que só podia ser atendido um suplicante de cada vez.
No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido Deus, em real "pessoa", à porta das orações, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei ao Querubim, e ele perguntou, Toda ou só um bocadinho. Deus duvidou por um instante, mas depois percebeu que pareceria mal, o Todo-Poderoso falar com um fiel através de uma fresta, Toda, ordenou Deus.
O inopinado aparecimento de Deus (nunca tal coisa havia sucedido desde que ele andava de auréola na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos oradores, mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomaram-se nas janelas das casas celestiais, do outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo atrás de respostas.
Repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, Deus tratou logo de fazer 3 perguntas seguidas, Que é que tu queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me respostas, disse. O assombro deixou Deus a tal ponto desconcertado, que o Querubim tratou logo de pegar o banquinho o qual ele próprio usava quando precisava trabalhar.
Mal sentado, pois o banquinho era pequeno e incômodo, Deus perguntou, meio a contragosto, E tu quais respostas desejas obter, pode-se saber, Eu quero saber por que não me fizeste ignorante como muitos outros, respondeu o homem, Mas a ignorância é um defeito, e não uma qualidade, respondeu Deus, disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, Pelo contrário, a ignorância é a maior das virtudes, respondeu o homem, Disparate, eu criei os defeitos e as virtudes e sei quais são quais, respondeu Deus, Quem foi que te disse, Deus, que as vezes as coisas não podem se modificar ao longo do tempo, Porque elas sempre foram assim, Elas sempre foram até mudar, Eu sou o Deus desse mundo e sei o que muda e o que não muda, sem mim vocês não são nada, Pelo contrário Deus, sem nós tu não és nada, sem nossa crença, nossa fé, o senhor não teria razão para existir, mas nós continuaríamos.
Deus, um pouco mais sério, perguntou-lhe, Então me digas por que a ignorância se tornou uma virtude, Porque, Deus, graças a ela as pessoas podem ser felizes, respondeu o homem, Como assim felizes, Bom, as pessoas ignorantes, não se preocupam se vêem aqueles que deveriam nos ajudar nos prejudicam, não se preocupam com as injustiças, nem com os problemas do mundo, nem com a vida sofrida alheia, Deus, elas só se preocupam em serem felizes, sem ligar para o que passa sua volta, fingindo que não é com elas, ou mesmo não entendendo o que se passa ao seu redor, pelo contrário, elas precisam de pouco para serem felizes, não importa se tem gente passando fome, se tem gente morrendo pela violência, gente largada na rua, o que importa é dar a oferenda ao senhor, ir a missa todos os domingos, mesmo que quando sair da igreja faça tudo ao contrário, o que importa é ver seu time vencer, e ter a cerveja do final de semana para comemorar.
Então, afinal, o que é que desejas, perguntou-lhe Deus, Desejo que me faça um ser ignorante, Pois bem então, vou dar-te a ignorância, mas as conseqüências serão tuas. Os gritos e aplausos do público não deixaram Deus ouvir o agradecimento do homem e nem seu pedido de um fígado extra para as cervejas dos finais de semana. Deus já havia voltado a porta das oferendas, e a hierarquia na porta das orações voltava a ser a mesma. Pelo menos por enquanto..."
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Se quiserem me xingar de Herege, me xinguem com conteúdo! Hahahahaha!
E fica aqui uma pergunta: Será que valeria a pena ser ignorante e alienado em prol da própria felicidade? Cá pra mim, não sei!
Abraço!
sexta-feira, 4 de abril de 2008
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20 comentários:
rsrsrs....herege é?
Sinceramente....cada um crê no quer crer. Quem julga...sei lá, acho que quem julga tem um retardozinho mental. Viva à liberdade de expressão, de adoração, enfim...liberdade.
Escreves muito bem.
Bjos
B.
Cara, acho que ser feliz já engloba não ser ignorante. Pelo menos eu vejo assim.
Abraços,
http://esfiha-berta.blogspot.com/
ESSA sua pergunta é um tanto o quanto capciosa, sei não rsrsrrsrsrrsrs...
Um abraço!
www.indicacao.wordpress.com
Não sei se vale a pena ser ignorante para ser feliz. Porque acho que as pessoas que pessoas ignorantes são aquelas que não sabem ser feliz independente do q tenham em suas mãos!
A ignorância não é sinónimo de leviandade e desumanidade.
Não se preocupar com as injustiças, nem com os problemas do mundo, ... fingindo que não é com elas, ... se tem gente passando fome, se tem gente morrendo pela violência, gente largada na rua, não é ignorância é passividade e inconsciencia... chega a ser crueldade.
Viver em sociedade implica termos cuidado de saber se o nosso visinho está a sofrer.. se precisa de ajuda.. se tem um prato de sopa para comer...independentemente da nossa crença ou da nossa cultura.
Se o fanatismo não nos permite ser lúcidos então em consciencia digo que não somos ignorantes somos irracionais.
Concordo quando dizes que os ignorantes só se preocupam em ser felizes...
Tavez porque não passam horas em frente a um compudador... porque a as decisãoes politicas são irrelevantes desde que lhes suba ordenado ao fim do mês...
Porque repeitam a natureza mesmo não tendo consciencia que um dia os recursos naturais possam acabar!
Porque passam mais tempo á conversa com os que lhe são queridos...
Ignorantes ou sabedoria?
realmente é uma discussão que eu mesmo não sei em que lado me ponho. Acredito em Deus, mas não no diabo; Acredito no livre arbitrio, porém o texto mostra, de um ponto de vista diferente, a "causa" de tudo isso...
Mas afinal, é para o nosso bem ou não?
Enfim, ninguem pode ser feliz por completo sendo um ignorante, sem discutir o que quer, pois a qualquer hora pode ser eu quem vai passar fome, ou até mesmo você!
Cara, de fato, gostei mesmo do teu blog! Vo visitar regularmente para ver os posts, que são, de fato, os melhores que li. Sei lá, você consegue ser bom sem usar a comédia, só usando um ponto de vista. =D
abração
Na minha opinião a ignorância ruim é aquela optada, ou seja, o indivíduo é ignorante porque é vagabundo. No entanto quando não se escolhe ser ignorante, são outros 500...
Em relação à religião e ignorância acho que depende da credibilidade da crença, no entanto, a grande maioria é, de fato, indústria.
http://pontodcom.blogspot.com/
Para tudo, partimos de uma, linha, imagine...Assim, si não a ignorancia, não haveria sabedoria ou duvidas, o sentir, não deve ser ignorado, correto?
Então ja si tem o sentir, de onde partir, e o que buscar, pelo menos, no meu ver, eu tento partir, da ignorancia, dai saber o necessario, emprol do que quero expor, não a vida sem ignorancia, eh algo muito maior, do que saber ou não sobre a vizinhança, o mundo, eh como ver uma obra de Michelangelo, eh si encantar sem ao menos saber, que era dele, eh ignorancia, não saber, certo? mais, não posso negar o sentir e nem o que pode presenciar, mesmo, tendo, aquela ignorancia sobre o assunto... acho muito estremo, trocar felicidade, por ignorancia, e que como vc empões, o seguir, ah algo, que não si conhece muito bem, para si sentir, melhor, não ah nada.. pq, eh como disse, a pessoa parte da ignorancia, procura o sentir, o que seria, melhor, ai no caso, colocou a felicidade, si for, ah sim, si for, bom, não vejo problemas, em seguir.. . o caminho que queira, sabedoria, ignorancia, felicidade, etc.. vai vê nada disso existe.
Caro Rafael, é engraçado você postar esse texto e fazer tal pergunta.
Sinceramente, muitas vezes reflito essa questão. Assim como o homem as vezes tenho a sensação de que estar na ignorância as vezes poide ser bom (já fiz ate um desabafo no orkut sobre isto). As vezes, também tenho esta sensação de que o conhecimento traz sofrimento.
Se esse é um pensamento fraco ou ñ, não sei. Mas não o acho absurdo. Se for, como humano, tenho o direito de fraquejar.
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Rafael, achei massa sua opinião altamente pacional sobre o Cazuza. De fato ele era um poeta.
Bem, fazendo referência à pergunta, creio que tudo seja relativo nas concepções humanas. Simplesmente depende do momento. Mas acredito, sim, que haja momentos em que seja, de fato, melhor se alienar em relação a coisas e pessoas, para não "estourar". Mas, e isto está claro, é necessário que reconheçamos o nosso dever de sermos sujeitos ativos em nossas próprias vidas, cumprindo um propósito que nos foi direcionado.
Até mais!
"Pelo contrário Deus, sem nós tu não és nada, sem nossa crença, nossa fé, o senhor não teria razão para existir, mas nós continuaríamos."
Então. Um dos príncipios kardecistas é que, quanto mais vc sabe, mais responsável é.
Se uma pessoa não tem noção dos males provocados pelo cigarro, não pode ser acusado de suícida.
Saramago só foi ignorante quando quis. Deus é maior, não cabe num banquinho.
Paguei paaaau pra esse texto Puime!
Só não te falo pra vc mostrar ele pra Laura, pq eu acho que ela não vai gostar muito.
E se vc acha que pode ser chamado de herege por causa desse texto... prazer, eu sou a heresia em pessoa. ;x
ADHAUIHDAUIEHDAUIS
:*
Acho que o fato d'eu ser atéia influenciou muito no fato de que eu simplesmente adorei o texto, mas bom...
"Será que valeria a pena ser ignorante e alienado em prol da própria felicidade?"
Acho que valeria mais a pena que todos nós fossemos inteligentes, e pudéssemos ver todas as atrocidades existentes no mundo. Se todos fossem inteligentes, poderíamos, sem dúvida alguma, resolver todos esses problemas. E aí teríamos tempo pra ser felizes.
olá, Raphael! Obrigada pelo comentário lá no blog!
E qnto a sua pergunta: às vezes eu digo, de brincadeira, que queria ser mto burra e ignorante! só assim sofreria menos...rs
Mas não sei... acho que a felicidade falsa da pílula azul não preenche ninguém! pessoas assim parecem que vêm ao mundo e não aproveitam as possibilidades diversas q ele fornece!
bjksss
Finalmente consegui ler o texto!Eu acredito que as pessoas nao precisem ser alienadas para serem felizes,talvez seja apenas mais facil...
abraçoo
É incrível como enquanto lia o texto, várias pessoas me vieram à lembrança. Todas ignorantes e, coincidentemente, felizes.
Bem, eu sofro por não me considerar ignorante. Sofro por querer achar respostas, sofro por querer fazer as coisas certas e me preocupar com um mundo melhor. Ao mesmo tempo, gostaria que os ignorantes não fossem tão ignorantes.
Se, ao invés de você querer ser ignorante para ser mais feliz, você pedisse a Deus que os ignorantes não o fossem, o mundo estaria salvo,pois todos se preocupariam com um mundo melhor.
Sinceramente, eu me vejo pensando muito em coisinahs bobas, e imagino que se eu fosse uma pessoa ignorante, acho que viveria melhor, que viveria igual às outras pessoas.
Mas, eu sempre quis me destacar das outras pessoas. Não querendo ser melhor, mas demonstrando que eu tenho (?) alguma inteligência.
Pena viver num mundo cheio destes...
O ignorante é infeliz à sua maneira. Quando não entende a piada, quando perde a poesia. E quem disse que a sapiência só traz infelicidade. Que mania que intelectual tem de ser blasé!
E louvado seja o profano Saramago!!!!!
Nossa Puime!! ÓTIMO TEXTO
(como todos os outros xD)
Ah, eu acho que o pessoal "crente" pegou pesado um pouco aí em cima. Eu que sou espírita kardecista, acho que o "X" da SUA questão não era a existência,ou não, de Deus, ou sequer o seu "real tamanho". O que você questionou foi se a Ignorância seria uma possibilidade para a felicidade. Eu sinceramente não sei. Ser ignorante não ME faria feliz. Me faria menos esbravejadora, menos irritada, menos FULA DA VIDA mesmo com quem não cumpre o papel que quis assumir (na sociedade, ou na política).
Enfim...ainda resta a dúvida!!
Beijoooos
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