quinta-feira, 15 de maio de 2008

Páginas Arrancadas...

"Terceiro dia.

A cada minuto que passa eu me sinto mais absorvido pela atmosfera doentia desse lugar. Hoje não foi muito diferente dos dois primeiros dias. Pelo menos agora eu já tenho uma noção do que fazer e, mais importante ainda, o que não fazer.

Quando eu achei que isso aqui seria menos duro que a prisão, eu tava muito enganado. Parece que tudo isso é um mundo a parte (e talvez seja), que vai sugando sua sanidade aos poucos, até você chegar ao final da estrada, até você se tornar mais um deles.

Eu não entendo porque eu, um cara "normal", com emprego, família, amigos, e toda aquela merda que todo mundo tem, vim parar nessa droga de lugar. Eu nunca fui de saber muitas coisas, mas se tem uma coisa que eu sei é que eu não fiz nada que justificasse isso.

Mas quase nunca as coisas são como deveriam ser. Eu sabia que não devia ter mudado meu caminho aquela noite. Mas mesmo assim eu mudei. E aquela aparentemente pequena mudança, fez com que a minha vida inteira mudasse. Presenciar um assassinato brutal não é uma coisa que se possa considerar agradável. E muito menos quando o assassino é uma das pessoas mais influentes da porra da cidade.

De lá pra cá, foi tudo uma enchente de acontecimentos. Ele não podia ser preso, e alguém tinha que levar a culpa. Então sobrou pro idiota aqui que resolveu mudar o caminho pra casa naquela maldita noite. Em menos de uma semana eu já tava dentro da jaula, condenado pelas pessoas, facilmente manipuláveis, antes mesmo de ser condenado pela "justiça". Aliás, que justiça?! A justiça deles, ou a nossa?

Mas chega de remoer o passado. Eu sei que vai ser foda ficar por aqui, e se eu ficar pensando no passado eu vou ficar como eles bem rápido. Bem que o advogado que eles me arrumaram disse pra eu ocupar minha cabeça com alguma coisa antes que ficasse louco. E é por isso que eu tô aqui, escrevendo essa droga. É melhor que "conversar" com o cara que abriu a própria barriga porque as vozes mandaram, ou com a mulher que acha que é casada com Hitler. Bom, com ela eu não ia poder conversar, já que segundo os guardas tem quase 3 semanas que ela só fala em alemão.

Falando neles, e porque não com os guardas? Eu nunca fui muito com a cara de policiais, mas nessa situação eu até tentei conversar com um. Mas aprendi da pior maneira possível que é proibido qualquer contato com eles. O único contato que eu posso ter com os "cavaleiros azuis" como diz um dos meus companheiros de cela, é mediado pelo cassetete que eles usam pra controlar os presos. Então eu prefiro continuar escrevendo por aqui mesmo. É menos dolorido. Pelo menos fisicamente...

Bom, já é noite, e o sinal avisando que as luzes vão se apagar já tocou. Eu não dormi direito desde que cheguei aqui, e meu corpo demonstra isso. Acho que o cansaço vai acabar vencendo o meu senso de alerta, e o sono vai ser inevitável. Só espero que não aconteça nada comigo durante a noite.

O segundo sinal bateu. Daqui a dois minutos as estrelas serão a minha única companhia, então é melhor eu parar de escrever e guardar tinta na caneta pra amanhã. Já vi que vai ser difícil conseguir outra nesse lugar..."


Se vocês gostarem eu posto mais.

Desculpa a demora nos posts, é que a inspiração anda em baixa por aqui. Espero que gostem.

Abraços...