Ela sentou na habitual fonte, na habitual praça. Ela já se acostumara com essa cena. Ficar sentada observando a água em um movimento quase mecânico enquanto formulava teorias "malucas" sobre a vida já fazia parte de seus dias. E ela não reclamava disso. Aliás, ela nunca reclamava de coisa alguma.
Ninguém nunca falava com ela. Talvez fosse o seu cabelo pintado de azul, talvez fossem suas roupas pretas, o fato é que as pessoas pareciam ter medo dela. Mas ela não ligava pra isso. Sempre achava defeitos demais nas pessoas pra manter uma conversa por algum tempo. O fato é que ela era uma pessoa solitária. Até demais.
Segundo sua própria concepção, era a melhor maneira de evitar decepções. Se ela não esperasse nada de ninguém, ela não teria com o que se decepcionar. Por isso ela afastava qualquer pessoa e continuava fechada em seu próprio "casulo", protegida de tudo e de todos.
Provavelmente esse jeito fechado foi consequência da infância cheia de decepções. Ou talvez da família problemática. Do pai bêbado ou da mãe que insistia em manter as aparências enquanto o mundo ruia atrás dela. O fato é que tudo estava funcionando perfeitamente da maneira como estava. Ela não precisava de mais ninguém além dela mesma. E de seus cigarros.
Ela pegou um cigarro do maço guardado no bolso de sua jaqueta e o acendeu. Ela repetia esse gesto desde os 16 anos de idade, e nunca se cansava. Quando ela acendia seu cigarro, tudo a sua volta parecia desaparecer, e a única coisa que importava era o movimento quase ritualístico de fumar seu cigarro. Foi a maneira que ela encontrou de fugir de tudo por alguns minutos.
Só que dessa vez algo a tirou da sua fuga. Um toque sutil de uma bola em seus pés a fez sair de seu mundo por um instante. Uma figura vinha se aproximando, em direção a bola, e parou a alguns metros dela:
- Moça, você pode me devolver a bola?
Não se sabe foi a maneira que a pequena garota falou com ela, sem medos e sem receios, que a fez ficar desse jeito. Talvez a pele branca como papel, e os cabelos pretos encaracolados a tivessem feito lembrar de sua infância. Mas acontece que ela simplesmente ficou parada por alguns instantes, observando a menina.
- Moça? Você pode me devolver a bola?
- Ahn?! Ah sim, claro. Toma.
Ela chutou a bola para a menina, ainda sem acreditar direito na cena. Fazia tempos que ela não via alguém sem receio de se aproximar dela. Fazia tempos que ninguém se aproximava dela sem a julgar pela aparência.
- Obrigada! E moça... você deveria parar de fumar! Cigarros fazem mal pra saúde!!
"Quem essa menina pensa que é pra me dar conselhos?? Mal saiu das fraldas e acha que sabe alguma coisa do mundo?"
- É, eu sei. Obrigada pelo conselho.
Ela viu a menina se afastando aos poucos, erguendo a bola para os amigos como se fosse um trófeu conquistado com muito esforço. Aproximou seu cigarro da boca, mas parou na metade, olhando pra ele. Observou-o por alguns segundos, e voltou seu olhar para a menina, que já estava na companhia de seus amigos, brincando com a bola.
- Filha da mãe...
Apagou seu cigarro, levantou-se lentamente e foi embora, com um sorriso no rosto. Pelo menos por hoje, ela não ia fugir...
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
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6 comentários:
bom, eu tinha um blog, até que eu: 1. esqueci o endereço; 2. esqueci a senha; 4. esqueci o loggin; 5. recebi comentários estúpidos de uma pessoa igualmente estúpida que não sabia o que dizer.
mas, sinceramente. saber que a gente serve de inspiração pras pessoas é comovente. ficou podre, mas não interessa. o texto é embasbacante e extasiante, e é isso que importa.
beso, puime :*
e, conte com minhas críticas :D
puimee!!
gosteii mtt do texto!!
dá pra refletir bastante em cima dele!!
parabéns pelo blog!!
=****
qualquer relação entre as cores do blog e a camisa do grêmio é pura coincidência, certo?
Gostei do texto.
Escrever é um vício.
Bem-vindo ao clube.
Isso aí, não fumem! (Y)
adhuidaieudhauiedhiuaedhiues
Cara, eu tô com um monte de início de textos salvos nos meus rascunhos, tá me dando vontade de começar a escrever de novo!
;*
como sempre, mandando muito!!
você sabe que sou sua fã.. então,
continue escrevendo e compondo, que, com certeza, estarei sempre te aplaudindo.. ;D
sucesso no blog...
beijoss ;*
Eu cheguei aqui por acaso, e vc escreve tão lindamente que toda vez que tenho um tempinho venho dá uma olhada, esse texto, foi o melhor, pelo menos até agora!
Mais uma vez, Parabéns!
Bjs.!
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