Vejo as chamas consumindo lentamente a madeira seca na lareira e penso em tudo que vem acontecendo... A claridade na sala de estar é calma e aconchegante, o suficiente para trazer a tona sentimentos e dúvidas propositalmente oprimidos. Acendo um cigarro, fecho os olhos e penso em tudo o que vem acontecendo... Fecho os olhos e tento me lembrar...
Ouço o som da chuva caindo lá fora e tento me lembrar dos sonhos que tenho tido ultimamente... Eu tenho sonhos que não consigo lembrar. Ou que prefiro não lembrar, nunca sei ao certo. Ultimamente tenho andado em dúvida sobre o que é sonho e o que é realidade. Começo a pensar nas coisas reais, ou que parecem reais. Penso em olhares, em sorrisos, em sentimentos, que se não são reais, ao menos fazem parte da realidade. Da minha realidade...
Sinto o cheiro da terra molhada e mais dúvidas consomem meus pensamentos... Dúvidas, dúvidas, dúvidas. Começo a duvidar da minha própria existência e da existência de tudo ao meu redor. E começo a duvidar de olhares, sorrisos e sentimentos. Começo a duvidar da minha realidade...
E cansado de ser consumido por dúvidas e incertezas, resolvo agir. Sem dúvidas dessa vez. Olho para o lado e vejo um copo cheio até a metade. Não penso. Jogo o copo no chão e vejo o vidro se espalhar pelo chão da sala. Pego um pedaço, grande e cortante o suficiente, e antes de duvidar de sua existência, aperto contra meu braço e faço um profundo corte. Vejo o sangue escorrendo, colorindo os transparentes cacos de vidro. Ouço o som das gotas caindo, criando uma sinfonia mórbida em meus ouvidos. Sinto o cheiro de sangue tomando conta da sala. E percebo, sentindo tudo, que não sinto nada.
O cigarro queima minha mão e abro os olhos repentinamente. Alguns minutos se passaram e eu nem percebi. Olho para o meu braço e o vejo intacto, sem o corte feito segundos antes. Olho para o lado e vejo o copo cheio até a metade, como estava antes de ser quebrado. E assumo que tudo não passou de um sonho.
É quando olho pra baixo e vejo um pedaço de vidro quebrado, colorido por um vermelho escarlate. E antes que consiga pensar em qualquer coisa, o recolho e jogo no lixo. Chega de dúvidas por hoje.
Eu tenho sonhos que não consigo me lembrar. Ou que prefiro não lembrar.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
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3 comentários:
Seus textos continuam bons. Gostei muito desta última postagem. Cheguei a pensar em várias possibilidades de contexto ao longo da leitura, até que você o fecha de forma diferente. Nada previsível, sinestésico e onírico.
eis, o meu comentário!
exatamente como deveria ser *-* (lindo ;)
preciso abandonar as reticências, tirar dois pontos delas e começar a usar apenas um: os finais.
às vezes tenho vontade de abrir os olhos e descobrir que a vida é só um sonho. e que esse vazio da pra encher com álcool. e que todo o resto, (sentimentos e aquela boboseira toda), se desmancha no ar.. junto com a fumaça do cigarro quando você sopra pra longe. e aqueles 3 minutos e meio que você foge são a eternidade inteira, quase tão eficiente quanto aquele beijo e falar besteiras contando estrelas. e sentar no meio fio com uma latinha de cerveja barata numa cidade grande e desconhecida e fria pra cacete tem o mesmo efeito que aquele abraço na chuva.. e.. sei lá. o mundo anda um pouco grande demais hehe e andam sobrando palavras e faltando pessoas.
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